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? Santo Tirso: Moleiro mantém fabrico tradicional graças a azenha no Rio Vizela

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Na margem esquerda do Rio Vizela, onde o Douro e Minho se separam, todos os dias, abrem-se as portas da Moagem Gonçalves. Uma empresa com história de décadas, que pela força da água e do engenho de Joaquim Gonçalves, produz farinha com a qualidade da sabedoria ancestral.

O moleiro diz que nasceu “dentro do moinho”, para fazer valer a herança que recebeu e que vem, “pelo menos”, desde “o avô”, que comprou aquele edifício “na década de 40”.
“O meu pai seguiu-lhe as pisadas e depois fui eu que peguei nisto, há 30 anos. Até quando não sei”, referiu, em entrevista ao Jornal do Ave.
A manutenção da azenha e dos moinhos tem de ser feita pelo moleiro, porque “já não há técnicos para isto”, revelou. “Com a habilidade e aquilo que aprendi, vou conseguindo manter isto a funcionar. Desde a montagem até a picagem e alinhamento do moinho, é tudo feito por mim”.
Quanto à produção, Joaquim Gonçalves consegue, em dias perfeitos, moer uma quantidade assinalável de farinha, tendo em conta de que se tratam de mecanismos tradicionais. “Se tiver água suficiente e os milhos forem bons e os moinhos estiveram afinadinhos, sou homem para moer uma tonelada (de farinha) por dia”, estimou.
Situada em S. Martinho do Campo, esta azenha teve outras vidas mesmo antes de ser azenha. Segundo o que Joaquim Gonçalves foi recolhendo de testemunhos e documento, o edifício pode ter sido construído “para ser uma fábrica de papel”, tendo sido “reconvertida em fábrica têxtil” e, mais tarde, “transformada para moagem” pelo avô.
Na geração anterior, o negócio também era muito diferente. O pai “abastecia” um grande número de lavradores, que “faziam o próprio pão em casa” e, como retorno, recebia o cereal, tendo como lucro “a maquia”. “Eram carros e carros de milho a entrar. Hoje é diferente. Vem um, de vez em quando, comprar farinha para fabrico próprio, mas é sazonal”, contou.
Com o passar dos anos, também a azenha foi sofrendo algumas alterações, não para descurar a vocação tradicional, mas para facilitar processos. Exemplo da recolha da farinha que, agora, saem dos estremunhados diretamente para um silo, que armazena a farinha. Sempre que é necessário abastecer os clientes, Joaquim Gonçalves abre o silo e o produto passa por um sistema de peneiragem até cair no saco de papel.

Apesar de ter um moinho elétrico, para acudir a momentos em que falta água, Joaquim Gonçalves não abdica dos tradicionais, porque “a farinha sai com a mesma textura e máxima qualidade”. “No moinho elétrico, o sistema aquece talvez devido à rotação, e a farinha sai quente e perde qualidade. No moinho de pedra, ela sai sempre igual”, confidenciou.
Joaquim Gonçalves regozija-se pela facilidade que tem em escoar o produto, a maior parte para padarias das redondezas, mas também com vendas regulares para outras zonas do país e até para o estrangeiro. Vender, aliás, é uma tarefa que o moleiro diz ser bem mais fácil do que encontrar matéria-prima.
“Nesta área onde o meu pai comprava carros e carros de milho, hoje não se compra um quilo. Eu tive de alargar e hoje vou mais a norte, ou então à zona Centro, também já fiz negócio em Santarém, Montemor, Ílhavo”.
Ocasionalmente, Joaquim Gonçalves recebe a visita de crianças e jovens em contexto escolar, mas considera que este património podia ser mais valorizado e reconhecido. “Com as acessibilidades que tem e num edifício não muito degradado e em pleno funcionamento, deixa-me pena as pessoas assobiarem para o lado. Temos a faca e o queijo na mão, só que estamos a deixar escapar”, lamentou.
Já na terceira geração dos Gonçalves, o futuro da azenha é incerto e a maior inquietação de Joaquim, que não conseguiu conter as lágrimas face à incerteza do amanhã e ao “medo” de ver a moagem fechar as portas nas suas mãos por falta de sucessores.
Enquanto tiver condições para estar entre atafonas, cavoucos, milho branco ou amarelo e farinha Joaquim garante manter as portas da Moagem Gonçalves abertas. Assim a água continue a correr no Rio Vizela.

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