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Santo Tirso

“Não tenho dúvida que somos penalizados por ser uma União de Freguesias”

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Marco Cunha, presidente da Junta da União de Freguesias de S. Martinho do Campo, S. Salvador do Campo e Negrelos S. Mamede, falou ao Jornal do Ave sobre os projetos que tem para este mandato e realçou as prioridades que o seu executivo pretende ver concretizadas.

Jornal do Ave (JA): Como é que surge a oportunidade de se candidatar a esta União de Freguesias (UF)?
Marco Cunha (MC): Quando gostamos de alguma coisa ou de fazer alguma coisa, não só na política, e se achamos que temos condições para exercer, devemos fazê-lo, não temos de estar à espera que seja alguém a convidar-nos para encabeçar uma lista, porque se não, quando dermos por ela, estamos ultrapassados. Não tive problemas nenhuns, e vim de uma freguesia mais pequena do que S. Martinho, de chegar junto dos responsáveis concelhios do Partido Socialista e mostrar a minha disponibilidade para abraçar este desafio.
Do alto da minha arrogância, como alguns apelidaram, disse que se o PS entendesse que haveria outro candidato e que eu visse que era uma pessoa que tinha trabalho político, autárquico e na freguesia, eu não teria problemas nenhuns em apoiar esse candidato e de fazer parte da equipa dele se ele assim entendesse. Agora se fosse alguém só porque era de S. Martinho do Campo, da elite de S. Martinho do Campo ou alguém que se daria melhor com quem pudesse decidir a nível partidário, eu avançaria como independente.

JA: Conseguiu replicar a experiência de S. Mamede na UF? Por ser a terceira maior freguesia do concelho de Santo Tirso, é uma tarefa difícil fazer esta gestão?
MC: É difícil. Este mandato é completamente atípico e só quem está mesmo por dentro, esteja mesmo interessado e goste disto, é que se apercebe do que é este mandato. Fruto da dívida que herdamos, não tenhamos dúvida de que só no último ano deste mandato é que vamos ter o ano limpo, quer em termos de apresentação de orçamentos, quer em termos de estratégia. Como se já não bastasse eu ser um corpo muito estranho, embora tivesse muitas raízes em S. Martinho (mãe e avós) e de ser criado aqui até aos seis anos, de ter jogado futebol no clube da terra e de ter trabalhado na empresa das hortas, no fundo, era alguém que vinha de fora e ouvi, por muito que me custasse, dizerem “vem agora alguém de S. Mamede para mandar em nós?”. Sabia que ia ser uma luta que ia ter, mas também era um desafio.
Associado ao próprio bairrismo das pessoas que continua, também passar de um movimento associativo de quatro ou cinco associações para 28, obriga-nos a um esforço terrível. A juntar a isso tudo, a questão da dívida que nós herdamos e que também nos lançou outro desafio, e nos obrigou a um desgaste terrível no início do mandato. As pessoas acharem estranho, eu entrar às 8 horas e sair às 3 horas da manhã, porque foi um processo muito complicado. O objetivo a que nos tinhamos proposto foi cumprido e queremos replicar em 2015, rigorosamente aquilo que fizemos em 2014.
Espero bem que as pessoas, nas próximas eleições, nos deem o benefício da dúvida, porque vamos fazer um mandato que nós nos propomos, sabendo como é que estavam as coisas. Nas últimas eleições, partimos para um mandato com um projeto que teve que ser alterado pelas condições que encontramos. Se tiver saúde, serei candidato nas próximas eleições e vou fazer um mandato nesta UF, já com algumas atividades que ajudem a população a assimilar esta união.

JA: Que projetos gostaria de ver ainda implementados neste mandato e quais os que gostaria e que poderá não conseguir concretizar ou poderá vir a concretizar?
MC: Se for por aí perguntar às pessoas, cada uma conhece o seu quarteirão, mas não conhece a realidade desta UF. Por exemplo, no ponto mais alto de S. Mamede conseguimos resolver um problema com cinco mil euros, com grande participação dos moradores, para onde estava previsto um investimento de 25 mil euros. Aqui ninguém sabe que isso foi feito, nem sabe que isso existe. São estas dificuldades que temos para gerir e que nos condicionam os projetos maiores.
Em S. Martinho, que eu tenha identificado, são duas as estradas em terra. Por sua vez, todas as estradas principais em paralelos estão num estado completamente degradado e que é preciso intervenciona-las. Em S. Mamede ainda tem uma dezena de estradas em terra. Podem dizer “mas eu não era presidente de junta lá e vou resolver os problemas?”. Não, porque a tal dificuldade é com o orçamento que tinhamos. Temos ainda zonas em que as pessoas para chamar uma ambulância têm dificuldades. Nós temos como objetivo principal acabar com a estrada em terra na freguesia, para que uma ambulância não tenha dificuldade de chegar à casa das pessoas, caso seja preciso.
As grandes obras não podem sair do nosso orçamento tem que ser da parte da Câmara Municipal. Temos 3/4 grandes projetos que têm de ser feitos pela Câmara Municipal e gostaríamos de ver alguns avanços e alguns até concluídos durante este mandato. Penso que vamos ver avanços na requalificação da avenida das Tílias (S. Martinho), que será dividida em três fases. A primeira começará durante o mês de março e é um grande esforço da Câmara Municipal, de cerca de 400 mil euros, que passa pela requalificação da avenida, colocação de passeios e de zonas de estacionamento.
A ligação à estação de caminhos de ferro é uma necessidade intermunicipal, não só nossa como de Lordelo, e temos esse projeto pedido à Câmara Municipal de Santo Tirso, mas depende também da autarquia de Guimarães e da REFER. Também o cruzamento que dá acesso, de São Martinho à Via Intermunicipal, é uma zona de muitos acidentes e graves e que queriamos juntar a esta ligação, fazendo uma rotunda ou com um cruzamento desnivelado.
Em S. Mamede temos a terceira fase do cemitério, que me preocupa desde 2010, quando, no dia 1 de abril, propôs à Assembleia a suspenção das vendas de sepulturas, porque só tinhamos nove livres. Já pedi à Câmara Municipal um estudo e um projeto para avançar com a terceira fase, visto que já temos terreno e tudo.
Este mandato, temos já isso calculizado, será mesmo acabar com as estradas de terra na freguesia, dar um melhoramento à capela mortuária de S. Martinho do Campo, que está já num estado bastante degradado e alguns arranjos que vamos fazendo, não descorando o parque escolar.
Outro ponto negativo, foi o facto do anterior executivo não ter feito o protocolo com a autarquia, em relação ao parque escolar, obrigando o atual executivo a pedir à Câmara que colocasse os seus serviços, como de eletricista e carpintaria, na EB1 de S. Martinho, que estava num estado degradado.

JA: O facto de esta ser a terceira maior freguesia, dá algum poder reinvidicativo junto da Câmara Municipal?
MC: Dá ou deveria de dar. Fui contra a agregação de freguesias, mas a verdade é que em 2007, num congresso da ANAFRE em Santa Maria da Feira, quando se falou pela primeira vez na agregação de freguesias, eu já dizia que ao agregarem freguesias que lhe deem competências e meios financeiros, para que se possa fazer um trabalho em prol daquelas freguesias e não esta brincadeira que se fez.
Somos de facto a terceira maior freguesia do concelho, e se juntarmos Roriz e Vilarinho, em termos do número de população, equivale a 20 por cento do concelho de Santo Tirso. Estamos a 13 quilómetros da sede do concelho e penso que quem está à frente do Município deveria fazer um investimento mais descentralizado.
Não tenho dúvida que somos penalizados, porque dantes falava-se em S. Martinho, S. Mamede e S. Salvador, agora somos uma UF.

JA: Qual a análise que faz desta UF, em termos de desenvolvimento económico?
MC: Neste momento está novamente a emergir. Quem conhece S. Martinho do Campo sabe que em outros tempos chegaram a trabalhar nas grandes indústrias têxteis cinco mil pessoas vindas de outras freguesias e concelhos. Neste momento há o aparecimento de novas empresas e de micro empresas. O que ainda mais me satisfaz é que também são empresas de ramos diferentes, enquanto antigamente era só a indústria têxtil, que acabou por entrar em crise, assim como toda a população. Hoje em dia, temos calçado, aquários e a indústria têxtil que volta a surgir não só em confeções como fiações.
O executivo a que presido tem um projeto que consiste em estabelecer proximidade com o mundo industrial da freguesia, através de visitas às empresas ou vice-versa, para conhecermos de perto a sua realidade e ajudarmos dentro da nossa pequeneza. A Câmara Municipal tem o balcão via verde, que poderá ajudar empresários a fixar-se na nossa freguesia para aqui investirem, criando emprego para esta população. Este foi um dos projetos que não pusemos em prática, porque outras situações surgiram.

JA: Educação, associações e a Ação Social são os pilares fundamentais de uma freguesia?
MC: Sim. No nosso município a educação é a nossa prioridade e investe-se muito nesta área, mas também na Ação Social. Na Junta temos uma assistente social permanente, mas como é estagiária com muita pena minha, ao fim de um ano vai embora, quando já está a conhecer perfeitamente todo o meio em que está inserida. A partir de fevereiro, uma assistente social da autarquia vai passar pelas freguesias, duas vezes por mês, para atender as populações mais carenciadas e necessitadas de apoio social.
Nós temos um fundo de emergência social em orçamento, em que ajudamos algumas famílias sinalizadas pelas Conferências Vicentinas e damos a oportunidade a desempregados de longa duração, com rendimento mínimo ou sem qualquer rendimento. Durante um ano dámos-lhe trabalho e um salário ao final do mês, numa tentativa de os puxar para cima.

JA: Quais os principais monumentos e pontos naturais que poderia destacar para mostrar um pouco do que é esta união de freguesias?
MC: Temos o Parque da Quinta do Olival, em S. Mamede, que gostava que fosse mais divulgado, com um polidesportivo, um parque infantil, zonas para piqueniques com mesas com postos de água, uma pista de manutenção e um palco com bancada, e temos o Parque de Lazer de Espinho.
Em monumentos culturais, temos a Capela da Santíssima Trindade, do Espiríto Santo, em plena avenida, sendo a única, em Portugal, que tem aquela imagem fantástica – o Espírito Santo tridimensional.
Também a ponte de Negrelos, que faz fronteira com Lordelo, mas que tem um simbolismo de mais de 200 anos, pois foi por aí que as tropas das invasões francesas tentaram atacar todas estas terras.

JA: Há previsão de alguma data de abertura do novo centro de saúde?
MC: Sinceramente nunca estive muito preocupado com a questão do centro de saúde. Já devia estar construído, mas só vai melhorar a prestação de cuidados de saúde se calhar se houver reforço de recursos humanos, quer mais pessoal administrativo, como médico. Está anunciado na imprensa que está a decorrer um concurso que terminará em abril para dois médicos. Neste momento, não tenho dúvidas que se o centro de saúde tivesse a funcionar nas novas instalações fosse melhorar a situação, porque os recursos humanos são os mesmos. Há falta de médicos.
Pedi à Câmara Municipal que se demorasse a abrir, para que, no mínimo, tirassem aquelas grandes que estão a tapar o estacionamento para se aproveitar no dia a dia. Na altura disseram que não tiravam porque estava mesmo preso por dias. O único sinal que me diz que ainda pode demorar mais alguns dias, tem a ver com uma via da Avenida 25 de Abril, frente ao Centro de Saúde, da responsabilidade da Junta, em que foi colocado um remendo pelos responsáveis da obra, que tem que ser corrigido.

JA: Se neste momento lhe fosse dada a escolher pela Câmara uma obra prioritária da UF, qual é que escolheria?
MC: Se tivesse que definir uma prioridade, ainda que sendo difícil, sinceramente acho que escolheria a parte do cemitério de S. Mamede, uma vez que só temos nove sepulturas. É um processo que se tem mesmo que acelerar.
Prioritário é pormos as obras que estão a concurso pela Câmara Municipal em execução, como a requalificação da Avenida de S. Martinho do Campo e a pavimentação da Travessa da Quelha e a Rua de Marecos.

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JA: A União de Freguesias tem uma diversidade grande de associações?
MC: É grande (a diversidade) e vamo-nos apercebendo que o maior número é em S. Martinho do Campo. Por exemplo, temos em S. Martinho do Campo o único Motoclube federado do concelho. Temos ainda associações desportivas, ranchos foclóricos, grupos de escuteiros, grupos de dança, duas associações de Karaté, escolas de música e de pesca. Temos quase tudo o que há em termos de associações.
Nós atribuímos um subsídio anual a todas as associações, que sabem em outubro quanto vão receber, para poderem planear a sua época. Criamos a rubrica “Outros” para estimular o dinamismo de cada associação, em que a Junta ajuda as associações que fazem atividades extras ao longo do ano e pedem ajuda.
Temos também alguns problemas ainda por resolver, como a questão do campo de S. Mamede, que neste momento não tem, e com o Rancho Folclórico de S. Martinho do Campo, que, apesar de ter um terreno cedido pela Câmara, precisa de ajuda para a construção da sua sede.
Queria que a Câmara percebesse que o Clube Desportivo de S. Salvador do Campo realizava provas de atletismo e tinha todos os escalões de futsal federados e inclusive uma equipa de futsal feminino subiu à primeira divisão, mas tiveram que acabar devido à falta de um pavilhão.
A Associação Recreativa de S. Martinho do Campo está, neste momento, em 1.º lugar na prova Elite de futsal federado e no próximo ano pode participar no Campeonato Nacional de Seniores. Sei que a Câmara Municipal ajudou com uma determinada verba para alguns investimentos que foram feitos, mas considero que a diferença na atribuição de subsídios é desproporcional. A associação recreativa de S.Martinho do Campo tem, ao fim de semana, mais de 200 atletas só a competir e tem uma envolvência de atletas que não têm visibilidade por estarmos a 13 quilómetros da sede do concelho.

JA: Qual é o valor do orçamento que tem para 2015? Considera pouco para as necessidades da União de Freguesias?
MC: O valor total do nosso orçamento é de 390 mil euros. É pouco, mas é um orçamento realista. É mais baixo que o anterior em cerca de 70 mil euros. Se formos realistas, para o ano o orçamento poderá baixar e vir para os 350 mil euros, o que é muito pouco, mas o que é importante é a nossa capacidade de investimento em termos de capital, que rondará os 80 mil euros, uma vez que a Câmara atribuiu um subídio para investimento de capital de 46 mil euros.

JA: Esta união de freguesias foi notícia precisamente pela consulta públicas que fez para a escolha de um nome para designar esta nova união de freguesias. Sente-se orgulhoso pelo trabalho que foi desenvolvido?
MC: Acho que o meu maior sinal, que foi dado já depois deste processo, que me surpreendeu e gostei, foi a bancada do PSD, na Assembleia de Freguesia que ratificou por unanimidade o nome Vila Nova do Campo pela população, foi apresentar um voto de louvor de todos aqueles que trabalharam naquele dia e à comissão.
Desde o início do processo, eu sempre o assumi, para o bem e para o mal, que partiu de mim, enquanto presidente de Junta, mas houve uma envolvência na comissão de 36 elementos.
Se me perguntar se eu temo vir a ter consequências negativas em relação a isto, eu não temo, mas acredito que as vá ter. Não temo, porque as sessões de esclarecimento ajudaram a esclarecer muitas pessoas, mas as consequências podem ver-se num ato eleitoral.
Diziam que eu queria ser o primeiro, mas nós não temos de nos esconder ou de estar à espera que alguém nos empurre para dar um passo, nós temos de o dar. A freguesia e este executivo vai ficar na história, porque teve a coragem de fazer aquilo que eu acredito que os outros também vão fazer. As gerações vindouras vão-nos dar razão e que de facto isto foi a melhor coisa que fizemos.
Por causa da agregação de freguesias vai permitir criar, ao longo deste ano através de parceria com a Câmara, um balcão do cidadão, para evitar que as pessoas tenham de ir a Santo Tirso.

NT: Marco Cunha é presidente de Junta a meio tempo. Porquê?
MC: Por que é que não estou a tempo inteiro? Isto de facto absorve um presidente de junta que queira e esteja interessado por isto. Eu estou muito mais do que tempo inteiro. Os meus colegas queriam que eu estivesse a tempo inteiro e isso está escrito na ata, porque eu podia. Eu não ponho de fora a possibilidade de estar a tempo inteiro e defendo que quem quer ser um autarca, tem mesmo de ser. Eu estou a sacrificar-me, a sacrificar a minha empresa e estou a ajudar, é um dever cívico. Enquanto vendedor, ganhava bem mais do que estar a tempo inteiro na Junta, recebo a meio tempo pouco mais de 200 euros e estou cá mais tempo que isso.

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