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Santo Tirso

Cremilda Medina: a morna que aquece o fado e salta com o samba

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A 18 de março, às 21 horas, sobe ao palco da Fábrica de Santo Thyrso a cantora cabo-verdiana Cremilda Medina, que apresentará o álbum de estreia, “Folclore”, que inclui temas que exaltam a Morna e a Coladeira, sonoridades tradicionais do país de Cesária Évora, e outros que se aventuram por estilos lusófonos como o Fado e o Samba. O concerto está incluído no programa do evento “Poesia Livre”, promovido pela autarquia tirsense.

Em entrevista ao JA, a cantora dá-se a conhecer e conta um pouco do trabalho musical que já foi galardoado com os prémios “Best World Music”, conquistado nos EUA, “Melhor Morna 2017” e “Sapo Award” 2016 e 2017, em Cabo Verde.

Jornal do Ave (JA): Como descreve o seu trabalho musical, que tem como base a Morna, mas explora outras sonoridades?
Cremilda Medina (CM):
O álbum “Folclore” foi feito com muito amor e com muita responsabilidade. Descrevo-o como sendo um reviver o passado, o ir ao encontro das nossas origens e das nossas tradições, ao antigamente com as nossas Mornas e Coladeiras, mas onde também me aventurei pelo Fado e pelo Samba.

A Morna, que é a minha estrela guia, tem por base o sentimento do nosso povo, do povo de Cabo Verde, onde cada composição retrata a realidade de um país de emigração.

Neste álbum, acima de tudo, estão presentes composições que eu gosto, pois para cantar uma música eu tenho de ser a primeira pessoa a gostar e a sentir o que ela retrata, daí este ser também um álbum com muito valor sentimental para mim. Devido à minha paixão pelo Fado, tive a oportunidade também de poder gravar um tema neste álbum, assim como um Samba, sendo eu da cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, onde o Carnaval faz parte da nossa história, e uma amante do Carnaval, achei por bem juntar também um Samba a este álbum em homenagem também à minha terra natal. Assim, eu poderia descrever este álbum como um primeiro filho que foi feito com todo o amor e cuidado e onde retrato a nossa cultura.

JA: Como tem sido a aceitação e feedback do público?
CM:
Felizmente, desde o lançamento do primeiro single “Raio de Sol”, a aceitação tem sido fantástica. Confesso que, quando lancei o primeiro single do álbum, a ansiedade era imensa, pois não sabia qual iria ser a reação do publico, mas felizmente a aceitação foi excelente.

Daí, dei o passo para a gravação do álbum, que, graças a Deus, tem tido também uma excelente aceitação, tendo já sido merecedor de reconhecimentos nacionais e internacionais, o que me deixa extremamente feliz.

JA: Como tem feito a abordagem ao público português e a sua opinião acerca da forma como este se tem relacionado com a sua música?
CM:
A minha abordagem com o público português tem sido de uma forma humilde, simples e muito sincera. Tento transmitir sempre o que há de melhor em mim e nas músicas que interpreto e isso tem feito com que tenha sido sempre muito bem recebida e muito acarinhada por onde tenho passado.

Em Portugal existe o Fado e em Cabo Verde existe a Morna, dois estilos musicais que se interligam, que se completam, muito por todo o sentimento que transmitem a quem o escuta. A relação que Portugal tem com a Morna é uma relação histórica, precisamente devido à emigração de vários intérpretes, músicos e cantores para Portugal, principalmente para Lisboa, o que fez com que essa ligação de encurtasse e ainda hoje exista. Nos meus espetáculos tento sempre que o público cante e dance comigo, pois é assim que eu gosto de estar em palco, com a participação de todos aqueles que assistem.

JA: Que linhas unem ou que linhas separam a morna de outros estilos por si explorados, como o Fado e o Samba?
CM:
As principais linhas que ligam os estilos musicais presentes no álbum são a tradição, a cultura e o Folclore. Tanto a Morna como o Fado e o Samba representam culturas e tradições de três países lusófonos em três continentes diferentes, Cabo Verde em África, Portugal na Europa e Brasil na América do Sul.

Só por aí estas são linhas de união entre continentes, onde os estilos musicais servem de veículo de ligação.

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Nos três estilos musicais estão presentes e representadas a cultura e história de cada país, através do seu ritmo, melodia, forma de representar e transmitir a sua música. A música deve servir sempre para unir e nunca para separar.

JA: Porque dar o nome “Folclore” ao seu álbum?
CM:
Esta foi a parte mais difícil do álbum, o nome. Já tínhamos o álbum pronto e ainda não tinha o nome, pois queria que fosse um que fizesse justiça às escolhas musicais do álbum. Foi um processo difícil, entre muitos nomes propostos acabamos por chegar a Folclore por tudo o que o álbum e o próprio nome “Folclore” representa. Como a minha estrela guia é a Morna, sendo ela um estilo popular, “Folclore” é o nome que resume tudo isso, pois transmite o conhecimento popular através das suas composições, dos costumes e tradições do povo cabo-verdiano, que têm vindo a ser transmitidas de geração em geração. Daí só poderia ter escolhido “Folclore”, pois resume na perfeição todo o sentimento que pretendo transmitir com este trabalho.

JA: De que falam as suas músicas?
CM:
As minhas músicas falam principalmente de sonhos, de ilusões, de amor e de perda de gentes próximas. A escolha das composições foi difícil, pois para eu cantar uma música tenho que gostar da letra e, acima de tudo, da melodia. Tive a sorte de poder trabalhar com excelentes composições como Morgadinho, João Carlos Silva, Antero Simas, Paulinho Vieira, José Eduardo Agualusa, entre muitos outros, que conseguem transmitir nas suas composições verdadeiras emoções que fazem com que cada música seja uma viagem pelo tempo.

JA: Quais as suas principais influências musicais?
CM:
As minhas principais influencias são os intérpretes e cantores de outrora, em Cabo Verde os principais são Cesária Évora, Bana, Paulino Vieira, Morgadinho, Tito Paris e muitos outros e entre também excelentes compositores que, infelizmente, já não estão entre nós, como Manuel de Novas, por exemplo. Desde muito pequena que, em casa dos meus pais, ouvia muito rádio e onde o meu pai tinha uma vasta coleção de músicas do mundo. Foi aí que também comecei a ouvir o Fado, na voz de Amália Rodrigues, o que despertou em mim o gosto pelo Fado, por isso também posso dizer que seja uma influência para mim.

JA: O que espera do público de Santo Tirso?
CM:
Do público de Santo Tirso espero boa disposição e alegria para poderem cantar comigo as minhas músicas. Irei fazer os possíveis para conseguir levá-los até Cabo Verde, numa viagem pelas sonoridades da Morna e da Coladeira, os dois estilos musicais que irei apresentar em palco. Espero que consiga transmitir a nossa cultura, assim como a nossa alegria, e espero que se deixem embalar pelas nossas sonoridades.

JA: Que opinião tem sobre a intenção da Câmara Municipal de Santo Tirso de homenagear a cultura lusófona nesta edição do Poesia Livre?
CM:
Acho que é uma iniciativa louvável homenagear a cultura lusófona nesta edição do Poesia Livre. A cultura lusófona serve para unir os vários povos da lusofonia, como uma forma de aproximar as culturas e as gentes de cada país. Dou os meus parabéns à Câmara Municipal de Santo Tirso e desde já aproveito para agradecer a oportunidade que me concederam em poder trazer até Santo Tirso parte da cultura do meu País. Que esta homenagem que a Câmara Municipal de Santo Tirso irá fazer sirva de incentivo a outras câmaras municipais para assim se poder unir, transmitir conhecimentos e histórias entre vários povos e gerações lusófonas, para que a cultura de cada país da lusofonia não caia no esquecimento.

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